quinta-feira, 8 de abril de 2010

Amanhã, amanhã...

Um conto de Joseph Conrad narra a aflição de um pai que dia a dia, por anos e anos, repetindo "amanhã, amanhã", como se não conhecesse mais nenhuma palavra, esperava a volta de um filho desaparecido fazia muito tempo. Toda manhã, bem cedo, ele se sentava na frente da sua casa, ficava ali e, quando se recolhia, à noite, continuava murmurando "amanhã, amanhã". Um dia, o filho passou diante da casa e, por não ser aquela onde tinha vivido, não olhou para o velho sentado na varanda. O velho, ocupado em murmurar "amanhã, amanhã", também não prestou atenção ao filho. E o momento passou, e não se consumou o reencontro. Se em vez de "amanhã, amanhã" o velho pai murmurasse "hoje, hoje", o final da história poderia ser outro. De tanto esperar o amanhã, ele havia abolido o hoje. Talvez sua esperança não fosse tão forte, apesar da aparência. Ou talvez ela estivesse sendo invocada com a palavra errada. Mas, nesta segunda hipótese, receio já estar não propriamente nos domínios da literatura, mas resvalando para aquele rentável território que certos charlatães chamam de autoajuda.

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