sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dalton Trevisan e o outro

J.D. Salinger, autor de O Apanhador no Campo de Centeio, livro que se tornou símbolo de uma geração, transformou-se por vontade própria em um homem recluso no momento de sua maior fama e glória. Imaginou-se, no início, que esse exílio autoimposto seria temporário e representaria não mais do que um golpe publicitário para, passando ao público a imagem de uma personalidade bizarra, Salinger multiplicar as vendas dos seus livros. Mas ele se manteve durante décadas afastado do mundo e de todas as tentativas de aproximação da mídia, até sua recente morte. Dalton Trevisan, conhecido como o Vampiro de Curitiba e considerado o maior escritor brasileiro vivo, seguiu trajetória similar. Isolou-se, fechou-se, matou-se para o mundo. Foram anos de isolamento e de falta de notícias. Há algumas semanas, um jornal publicou uma indignada manifestação de Dalton contra um escritor que, conseguindo romper o bloqueio, foi acolhido por ele, com ele conviveu e, iludindo sua confiança, deu a público inconfidências que levaram Dalton a execrar esse discípulo infiel com adjetivos dos quais o mais brando era traidor. Esse escritor que acendeu a ira de Dalton chama-se Miguel Sanches Neto, ganhou um prêmio nacional de contos com Hóspede Secreto e escreveu outros livros. De um deles, Herdando uma Biblioteca, cito uma frase que talvez sirva para começar a se compreender por que Dalton Trevisan ficou tão furioso. Falando sobre o decrescente uso da máquina de escrever, diz Miguel Sanches Neto: "Uns poucos escritores, como um Dalton Trevisan, um Luiz Vilela, um Antonio Candido, um Wilson Martins ou um Mino Carta, se mantêm fiéis a um objeto que representou tanto para o século XX." Informação adicional sobre Miguel Sanches Neto: ele ocupou uma coluna na revista Carta Capital; Mino Carta era diretor de redação da revista e sempre é citado como jornalista e artista plástico.

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