quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pequenas alegrias urbanas (72) -- Esquina

Quando a mulher entrou no prédio com o primeiro cliente (um rapazinho assustado que parecia estar caminhando para o cadafalso e não para uma experiência sexual), o homem, que até aquele momento a tinha visto só de frente, notou que as costas dela eram deliciosamente morenas e as nádegas, comprimidas na calça branca, se mexiam com uma voluptuosidade que ele não achou premeditada. Quando ela entrou com o segundo cliente (um velhote que também dava a impressão de estar preocupado, provavelmente receoso de ser visto ali), o homem apreciou de novo os ombros e as nádegas e lamentou que não pudesse desfrutá-los. Assim que o velhote saiu, com a mão protegendo o rosto, como se brilhasse na rua um sol noturno, o homem se aproximou da mulher. "Quer ir lá, benzinho?", ela convidou. "Não, me dá a grana dos dois michês", ele disse, mostrando o revólver na jaqueta e tentando ver no dinheiro, que ela assustada lhe passava, uma compensação pelos ombros, pelas nádegas e pelo resto.

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