sexta-feira, 28 de maio de 2010

Pequenas alegrias urbanas (157) -- O crítico

Contratado para ler e avaliar o original de um nonagenário que, segundo o único filho vivo, ao receber a extrema-unção dissera ser aquele o melhor romance de todos os tempos, o escritor de quarenta anos, cinco livros publicados e nenhum sucesso já estava na sexagésima das cento e oitenta páginas, cheio de espanto, de despeito e de uma cólera intolerável, quando um erro de concordância na página 61 o fez sorrir e, com o dedo em cima da calamidade gramatical, para que ela não lhe escapasse, dizer triunfalmente às cento e oitenta páginas, como se ali estivesse o defunto: "Ah, agora eu te peguei, hem, velho sacana?"

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