quarta-feira, 23 de junho de 2010

Lírica (119) - Estátua

Esperando o sinal verde para pedestres diante da grande avenida, foi tocado repentinamente pela lembrança da mulher amada e por uma ternura tão morna, tão doce, tão suave, tão fluida, tão melíflua, e também tão incisiva, tão aguda, tão imperiosa, tão impositiva e tão pungente que, enquanto esses adjetivos todos agiam nele com uma força que nem imaginavam ter, o sinal se abriu duas vezes e ele continuou ali, com a boca aberta num sorriso que era genuíno deleite, indiferente a tudo que não fosse aquela sensação marejando seus olhos, aguçando seu olfato para a recente primavera, descendo sensualmente por sua espinha de homem transformado em uma estátua do êxtase dourada pelo sol maduro da tarde.

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