segunda-feira, 28 de junho de 2010

Lírica (125) - Predestinação

Tinha dezoito anos e, sem haver conhecido nenhum, havia enlouquecido de amor uma dezena de homens, quando uma tarde, passeando num parque, viu um jovem que devia ter a mesma idade, ou um pouco menos, e era tão esplendidamente belo que ela, paralisada pelo espanto, não percebeu que rumo ele tomou e não o viu mais nesse dia nem em nenhum outro dos cinco anos em que, suspirando e chorando, viveu com uma única esperança, a de revê-lo, anseio que, quanto mais passava o tempo, mais se acendia em sua alma e mais lhe afligia o corpo. Dizia a todos que encontraria ainda aquele jovem, mesmo que só uma vez mais. No dia em que, não suportando mais a vida, sentiu que a entregaria antes de vir a noite, teve enfim realizado o desejo de revê-lo. Quando o padre chegou para lhe ministrar a extrema-unção, o quarto foi subitamente iluminado pela mesma beleza que a extasiara cinco anos antes, e ela, sorrindo, fechou os olhos.

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