quinta-feira, 3 de junho de 2010

Pequenas alegrias urbanas (172) -- Noturno

Ela disse baixinho "amor", e dessa vez, como se afinal tivesse dito da maneira certa e com o timbre adequado, seu corpo foi possuído por uma fraqueza doce, e, com uma volúpia morna que logo se transformou em chama, ela se abraçou e se apertou, e dançou pela sala, enquanto pelo janelão do apartamento uma brisa capciosa entrava e soprava nos seus ouvidos obscenidades, incitamentos, palavras puras corrompidas pela noite e pela lua, e ela não resistiu nem às obscenidades, nem aos incitamentos, nem às melífluas e malignas palavras, e continuou dançando, e nela havia tanta paixão que foi Melissa, e foi Pablo, e alternou esses nomes, Pablo, Melissa, repetindo-os cada vez com mais entrega, e somente quando o sol chegou, cansada e recompensada por ter sido Melissa e Pablo e por ter dançado tanto, foi para a cama e dormiu como dormem dois namorados depois de uma madrugada de amor.

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