sexta-feira, 4 de junho de 2010

Pequenas alegrias urbanas (176) -- Quase bom

Fazia dois anos que o velho não dizia uma palavra, mas naquela manhã a mulher e a filha - talvez porque na véspera tivesse sido iniciado um tratamento diferente, talvez porque notassem melhor disposição no doente - refizeram a rotina com renovada esperança: mostraram-lhe a foto dos netos, mas, como sempre, ele se manteve calado; em seguida, exibiram-lhe a foto de Havana, para onde ele sempre havia querido viajar, e julgaram tê-lo visto mexer os lábios; puseram depois para tocar sua música preferida, Clair de Lune, de Débussy, e então, com uma alegria que exprimiram em risos escancarados, lágrimas e impetuosos abraços no velho, as duas o ouviram dizer, encantado com a música: "Pixinguinha!"

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