quinta-feira, 22 de julho de 2010

Lírica (244) - Querer ou não

Não queria mais pensar no amor - não o amor amplo, vago e difuso, mas aquele específico, que tinha olhos de mel e uma trança escandinava e cujo nome, para maior sobressalto do seu coração, transpunha um monte antes de descer suave pela língua: Tamíris. Não queria mais pensar em Tamíris, porque Tamíris jamais pensava nele. Às vezes conseguia, e, nesses exercícios de não querer, descobriu algo que, se fosse dado a filosofias, talvez lhe parecesse um princípio, quem sabe até uma máxima: mesmo para não querer é preciso querer. E, quando conseguia ficar, um minuto que fosse, sem pensar em Tamíris, cavava-se no seu peito um vazio que um dia o levou a uma dúvida que, se estivesse na boca de um personagem shakespeariano, soaria pomposa, apesar de sua simplicidade: querer ou não querer?

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