sábado, 31 de julho de 2010

Lírica (305) - A palavra

Ela falou com ele por dez minutos e, em cada um deles, por trás do que ia lhe dizendo esteve atocaiada uma palavra que era seu trunfo e que ela usaria no momento certo. Conversaram sobre banalidades, frivolidades e até baboseiras, e a palavra ficou ali, todo o tempo, espreitando atrás dos dentes dela, esperando, ansiosa. No décimo primeiro minuto, ele perguntou - e isso pareceu a ela uma insinuação de fim de conversa - se havia algo em especial que ela quisesse dizer. Era o momento, mas ela e a palavra que estivera atocaiada na língua se acovardaram. Ela respondeu que não, que não havia nada em especial, e os dois se despediram. Desligado o telefone, ela explodiu em lágrimas e disse, afinal, a palavra. Amor, amor, amor, repetiu para a mesa da sala, para as cadeiras, para a cortina e, indo para a sacada do apartamento, continuou a gritar para o trânsito lá embaixo, para o céu, para o mundo: amor, amor, amor.

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