terça-feira, 10 de agosto de 2010

Lírica (395) - Ouropéis

Quando a amada lhe devolveu as palavras com que ele quisera fazer-lhe um presente, ele entendeu por que elas haviam falhado na tarefa de encantá-la. Ao contrário do que ele tinha pensado ao enviá-las, eram opacas e frias, embora, ao sair do seu coração, o houvessem enganado e parecessem cálidas e brilhantes. Aquela em que ele mais havia confiado estava tão desgastada pelo excessivo uso que ele dela fizera que mal se distinguiam suas quatro letras, e a imagem que lhe ocorreu, ao revê-la, foi a de uma mendiga que, tentando apresentar-se como rainha, julgasse possível conseguir isso com seu colar de lata, suas pulseiras de vidro e seus brincos, um de cada cor, garimpados no lixo.

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