sábado, 30 de outubro de 2010

Lírica (1.120) - Florilégio

É à noite, quando as luzes do casarão se apagam e até os cachorros dormem, que as flores contam, no jardim, histórias de suas ancestrais: a da rosa que foi triturada pelos dentes de uma princesa numa noite em que um de seus criados, com receio das consequências, se recusou a deitar-se com ela na relva, sob o luar; a do lírio que enfeitava o colo de uma rainha num baile e que, caindo no meio do salão, foi apanhado e guardado apaixonadamente por um amante anônimo, ficando três anos dentro de um livro, do qual só saía para ouvir as confidências do enamorado, que a ele dirigia as palavras que não podia dizer à rainha; e a da margarida que certa manhã viu mortos num duelo dois nobres que se batiam pelas carícias de uma jovem lavadeira, famosa por levar à demência qualquer homem, com os beijos que aprendera com um oficial de cavalaria polonês.

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