sábado, 9 de outubro de 2010

Lírica (909) - Epifania

Virginia Woolf me consideraria tolo e ignorante. Faria, com seus brilhantes amigos, comentários vexatórios sobre mim e me arranjaria um apelido terrível, mas eu continuaria gravitando em torno dela. O ciúme envenenaria meu sangue e eu rezaria para que morressem Litton, Clive, Violet, Vita. Um dia, num dos seus acessos de demência, Virginia talvez pudesse me achar menos abominável. Eu então - ou ela - diria ao cordato Leonard que iríamos dar um passeio pelo campo. Seria uma manhã muito azul e nuvens claras flutuariam tão baixo que eu recearia estar sonhando. Eu aspiraria o ar e, com ele, entrariam em meus pulmões o olor adocicado da grama, o aroma pungente das flores e o cheiro da alma e o cheiro do corpo de Virginia, e seriam um cheiro só, o da alma e o do corpo, e o da grama e o das flores, e eu gostaria de ser Litton, talvez Clive, provavelmente Violet, certamente Vita, pois qualquer um deles seria muito mais indicado que eu para receber a dádiva da epifania.

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