sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Salve, Mario!

O Nobel concedido a Mario Vargas Llosa vem com pelo menos vinte anos de atraso. Em 1990 ele havia escrito já os seus livros mais importantes. Os que ele fez depois foram só uma reafirmação, e quase sempre em tom menor, do seu talento de narrador. Escritores como ele e como García Márquez, centrados nas paixões do homem - especialmente na mais avassaladora de todas, o amor, aqui incluído o fogo sexual -, tendem a murchar com o tempo, à medida que se esvai sua seiva física. O passar dos anos faz bem a escritores como Borges, muito menos passionais que cerebrais, embora os dois adjetivos aqui sejam evidentemente - e lamentavelmente - reducionistas. Vargas Llosa e García Márquez (este bem menos prolífico ultimamente) têm enveredado mais pelas reminiscências que resvalam para o ensaio. O que os dois fizeram de mais representativo foi concluído há vinte anos. Llosa, como Márquez, mereceu o Nobel(e digo isso, claro, na qualidade de leitor, simplesmente), e ainda bem que o reconhecimento chegou, embora tardio. Numa época de tantos dentes cerrados e de tanta busca de literatura "séria" e "socialmente engajada", é bom pegar um livro como "Pantaleón e as visitadoras" e acompanhar os ardis matemáticos do capitão Pantaleón Pantoja para suprir de mulheres um batalhão de soldados enlouquecidos pela abstinência sexual, na selva. Ah, os maravilhosos e precisos cálculos que fazem cada rameira recrutada precisar atender a 3,7 ou a 4,2 homens, dependendo das circunstâncias... Cálculos que acabaram valendo ao capitão Pantaleón, o Pantita, o epíteto de Einstein da foda. Quem disse que a "boa" literatura precisa ser sisuda? "Tia Júlia e o escrevinhador" é outra delícia, temperada com um bom humor que sempre foi uma das características de Llosa. Salve, Mario!

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