segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Orgulho

Não tem mais amor-próprio mas
fingindo que ainda o tem
passa cinquenta vezes por dia
perto do celular
e o deixa mudo
e tecla e destecla
um endereço no micro
e anda em volta de si mesmo
criteriosamente
como um arqueólogo
examinando ruínas

Sente vontade de dizer
de clamar
perdão pode espezinhar-me
que eu mereço
mas passa de novo diante do celular
e o deixa quieto
tecla e destecla o endereço
e se devora e
se consome e se
tritura e se esmigalha e
se destrói
e se arrasa
como se já não estivesse
devorado
consumido
triturado
esmigalhado
destruído
arrasado

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