quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O homem bom

Ele plantou
cultivou
regou
rezou
acautelou-se
contra as
pragas e as
geadas
completo se deu
e se frustrou
por inteiro

Almejava árvores
queria ramos
desejava flores
mas seu nome
é pronunciado
hoje como
se aos lábios
que o pronunciam
custasse
pronunciá-los
assim como
aos vencedores
abomina
dizer o nome
de perdedores

Já insistiu
já resistiu
já persistiu
já tresvariou
já jurou
e rejurou
já perguntou a Deus
e reperguntou
que erros cometeu
onde foi que se equivocou

Mas Deus parece
que não cuida
mais de flores
nem de plantios
não quer saber
nem mais de chuvas
nem mais de terra
e cada dia
se enreda mais
no seu sono culpado
e finge estar surdo
aos homens que
sacodem o mundo
com seus gritos
de selvagem incitação
e seus brados de guerra.

Enquanto no teatro
crescem os brados
de súplica
e de rancor
 o autor
o autor
Ele se esquece
e se absolve
já em outra
mais profunda
camada de sono
e de anonimato.



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