quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

De um morto, com afeto

Te comunico que morri

Claro que já sabias
que sempre soubeste
desde o primeiro dia
e se nunca me disseste
há de ter sido
certamente
por tua delicadeza
ou pelo temor reverente
que os mortos inspiram
nos que ainda
mortos não estão

Sabias já
que eu estava morto
mesmo quando eu
tentando esquecer
que estava
tirei da mala do porão
um sorriso arruinado
por cinco décadas
de mofo e olvido
e como um saltimbanco
inventei alegrias
para te entreter

Soubeste sempre
e te agradeço
por jamais
me haveres dito
por teres tido
a grandeza
de permitir
que eu morresse
de novo
e desta vez
por algo maravilhoso
por algo pleno de magia
majestoso
algo que só podia
ser dado por ti
algo que só por ti
podia ser recusado

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