quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Majestade

Boneca inflável
boneca afável
boneca amável
quem dirá que te ama
quem cantará teus encantos
quem reconhecerá
que são tantos
e não só os
que abres na cama?

Quem enaltecerá
a forma com que
compostíssima dama
te sentas no sofá
quem honrará
teu sorriso sempre pronto
a modesta sabedoria
dos teus silêncios
e dos teus olhos frios
a inextinguível chama?

Quem será
que sem temer zombaria
um dia o álbum abrirá
e aquelas fotos mostrará
nas quais embevecida
olhas para o homem
o único homem
de toda tua vida?

Quem num poema revelará
aquelas palavras salivosas
que todas as noites
te estupram as orelhas
aquelas sílabas asquerosas
grudentas torpes nojentas
que entretanto recebes
sem convulsões no sangue
como se não as entendesses
como se falasses somente
se acaso falasses
uma língua que só falam
as santas
ou as rainhas?

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