quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O cisne de Amherst

Emily
teu vestido branco
é uma das ovelhas
que toda noite chamo
para ensinar o caminho
ao meu sono

Ele é sempre
a última de todas
aquela que diz enfim
pode vir
que tudo agora
são só fiapos de neve
e algodão
pode vir menino meu
eu velarei
pela tua solidão

Tu nunca vens nele
Emily
no teu branco vestido
de sopros e fragrâncias tecido
talvez porque eu ainda não conheça
o nome que deve ter
aquilo que tu és
aquilo que é mais transparente
do que a transparência
mais fluido que o éter
e mais incorpóreo que o luar

Tu talvez saibas
essa palavra
Emily
mas por modéstia
não queres nomear-te
não queres dizer
que Emily pronunciada
com a leveza adequada
a leveza que só tu conheces
é a palavra

Eu por mim
quando tenho a ventura
de te ver no sonho
e nele dizer teu nome
acordo sempre com
um cisne ao lado da cama
um cisne cujas penas de açúcar
a brisa matinal
vem delicadamente lamber

Às vezes penso que
teu vestido branco
se cansou de ser ovelha
e decidiu mudar
para outra espécie
de alvura

Mas às vezes
acho que o cisne és tu
Emily
e te chamo
Emily
Emily
até o cisne se dissipar
lambido inteiro pela brisa
e os primeiros sorrisos do sol

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