quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ternura

Não sabe
como gastar sua ternura

É antigo isso
dura já
cinco anos
talvez dez
talvez mais

Ele tenta
ele se esforça

Começou com o gato
depois veio o cachorro
os peixinhos
porém ainda
principalmente à noite
ele sente aguda a ânsia
de libertar a ternura
entalada no peito
como um passarinho neurótico

Sente que seria capaz
de sair de madrugada
olhar para os dois lados
e como um ladrão
abraçar um poste
o mais humilde de todos
e perguntar no ombro dele
como um menino retardado
quer ser meu amigo
quer ser meu amigo?

Talvez faça isso
esta madrugada
talvez ouse
se não houver lua

Enquanto não ousa
acomoda-se no sofá
com o gato e o cachorro
e olhando os peixinhos
pensa no tempo
em que saía do metrô
subia a escada rolante
e era recebido
pela cegante alegria
do sol pleno na avenida
e por um sorriso
e demorava um pouco
para distinguir
qual era o sol
e qual era o sorriso

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