domingo, 29 de maio de 2011

O homem na foto

Na manhã de domingo, desistindo de sair porque uma chuva grossa soprada por um vento gelado varria as ruas, ela resolveu limpar o arquivo de imagens do celular. Surpreendeu-se com o número de fotos guardadas e, de cada cinco que olhava, quatro já não lhe diziam quase nada: paisagens, fachadas de hotéis onde estivera em suas viagens pelo mundo, entradas de galerias ou museus. Com as pessoas ocorria quase o mesmo: de cada cinco imagens, três eram descartáveis, e foi isso que ela se pôs a fazer. Excluía, excluía, excluía. Um rosto de homem lhe chamou a atenção. Quem era aquele? Por que estava ali no arquivo? Procurou alguma foto em que ela estivesse ao lado dele. Nenhuma. Intrigada, decidiu dar uma última chance à imagem, enquanto pedia socorro à memória. Qual era o nome do homem? Era Paulo? Lauro? Lucas. Sim, era Lucas. Mas quem era Lucas? Ficou assim alguns minutos. No momento em que finalmente excluiu a foto, lembrou-se. Era Lívio. Não, era Pablo. Não, não era Pablo também. Ou era? Olhou pela janela e viu um aceno do sol. Aprontou-se, pegou o carro e saiu. Olhou-se no espelho e sorriu - um sorriso que talvez tivesse oferecido, num dia de sol, a Paulo, Lauro, Lucas, Lívio, a Pablo.

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