terça-feira, 7 de junho de 2011

Feiticeira

Ele não sabe a cor dos olhos dela. É o quinto encontro e ele sente que ainda não será hoje que saberá. Sempre que pensa em ousar, em se arriscar, em fitá-los, a voz dela o deixa em tal leveza, em tal beatitude, em tal êxtase, que ele se obriga a baixar os olhos para ver as mãos dela abrindo o envelopinho de açúcar ou mexendo o café. Já conhece suas mãos, seus dedos, acha que pode confiar neles. Pode confiar nos olhos também? E se eles se juntarem à voz feiticeira que o envolve com sons tão perturbadores que ele jamais consegue distinguir uma palavra? Receia - e ao mesmo tempo anseia - olhar para os olhos dela quando nos seus lábios estiver uma palavra que ele enfim entenderá e será aquela nunca dita, aquela que o fará compreender que a nenhum homem jamais é dado continuar vivo depois de conhecer integralmente a beleza.

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