segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sobrevivente

Restou uma flor miúda, mirrada, que a benevolente brisa matutina contorna, ao passar. Quando abro a janela para o sol e a vejo, sinto que certos milagres podem repetir-se cotidianamente. As outras flores todas morreram e, por alguma razão, a mais frágil permanece ali, única memória visual do jardim. Se tu a visses como a vejo, agora, pensarias que nasceu hoje. Eu também pensei isso ao vê-la pela primeira vez, encolhida como se fosse incapaz de cumprir seu destino de flor. Tivemos olhos para as imponentes, aquelas carnudas como frutos, que só ao sol pleno se exibiam. Esta que contemplo agora estava entre as outras, oculta pela beleza delas, e sobreviveu para mostrar-nos que quisemos demais. Consolo-me ao vê-la, tão humilde quanto talvez devêssemos ter sido. Se a visses, pode ser que te consolasses também e que uma esperança tardia nos aquecesse o coração.

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