quinta-feira, 21 de julho de 2011

O guerreiro

O que hoje ele quer é não querer mais nada. Isso é resignação, tem consciência de que é, e alguém lhe disse uma vez que a resignação só é digna se vier de uma alma elevada, de um monge, de um santo. Um homem, como ele, deve lutar sempre, debater-se, estertorar, mesmo sabendo que, no fim, toda batalha só serve para exacerbar a derrota ou desdenhar a vitória. Há que lutar assim mesmo, ele sabe disso, sempre soube. Mas agora não pode mais lutar, não poderia, ainda que quisesse. Lutou muito, criou moinhos e investiu contra eles, provou o amargo fruto dos dias e o fel das insones madrugadas, fingiu ser outro para munir-se de coragem, quis diminuir o inimigo, para fortalecer-se, e o que a luta lhe fez foi envenenar todos os seus sentimentos. E foi roído pela inveja, e sangrado pelo ciúme, e vergastado pelo ódio. Lutou pelo amor, como se lutar fosse um direito seu e uma obrigação inscrita no seu destino, e saiu da luta sentindo-se menor, abjeto, mesquinho, asqueroso. Perdeu a luta, mas tem hoje a convicção de que se sentiria também menor, abjeto, mesquinho e asqueroso se houvesse vencido. Está cansado, ferido, lhe aprazeria estar morto, mas não quer alívio, nem consolo, nem comiseração. Resignar-se a não mais lutar lhe devolveu a alegria única de poder ficar no seu canto e, destituído dos deveres de guerreiro, chorar. Talvez, no final de tudo, possa querer ao menos isso: chorar.

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