terça-feira, 29 de maio de 2012

Incompatíveis

Já me recusaram por eu ser triste. Era uma dessas noites que se esforçam para se fixar na memória, que vêm com a brisa certa, uma lua terna e a porção exata de estrelas. Havia também o mar, dócil, sonolento. Na praia, meia dúzia de garotas e rapazes dançava ao som de um rádio escandalosamente alegre. Eu estava sentado num daqueles bares perto da areia, tinha entre minhas mãos as mãos da amada, e nos lábios, inquieta, uma daquelas frases simples que nos soam tão épicas quando amamos. Toda vez que a primeira sílaba ensaiava dizer-se, a emoção a travava e eu, olhando os verde-azulados olhos que também me fitavam, receei - e ao mesmo tempo desejei - chorar. Teria sido bom morrer naquele instante, o mais doce de minha vida. Apertando um pouco mais as mãos da amada, senti-me encorajado a dizer enfim as três ou quatro palavras que me palpitavam na boca. Eu as teria dito, se a amada não me dissesse antes: "Olhe, eu andei pensando, não vai dar. A gente não se acerta, não combina. Eu gosto de festa, de barulho. Você, não. Você é muito triste. É melhor a gente ficar por aqui." Eu ia responder, mas ela havia puxado já suas mãos e olhava para os casais dançando na areia. Nunca mais nos vimos.

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