terça-feira, 14 de agosto de 2012

E boa noite

E mando-te boa noite de novo, como se precisasse provar a mim mesmo como estou desarvorado. Mando-te boa noite como se acreditasse ainda nas palavras, que me traíram tanto. Mando-te boa noite outra vez, uma noite muito melhor do que a minha, que há de ser, como uma letra de bolero, povoada por pesadelos e por tormentos e, desgraçadamente, sem o alívio do olvido. Mando-te boa noite de novo, boa noite, boa noite. E repito: boa noite, porque já não sei dizer-te nada mais longo, nada mais coerente, nada com sentido. Mando-te boa noite porque dizer-te qualquer coisa além disso me deixaria novamente com aquela impressão de que disse algo errado. Mando-te boa noite como alguém que, em vez de moedas, passasse com o chapéu para recolher algum afeto. Mando-te boa noite como um mendigo, como o mais carente deles. Mando-te boa noite desavergonhadamente, como quem já perdeu o respeito alheio e o próprio. Mando-te boa noite e fico, esperando no sereno, algum som, ainda que inventado, que possa ser confundido com uma resposta. Boa noite

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