quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Kama Sutra - XXXIV

Ela diz que vai tomar um banho bem rápido, e ele, como toda manhã nos últimos três meses, quando ela deu início ao hábito, vai bebericando o café enquanto, da parte de cima da casa, ouve a água do chuveiro chovendo nos ladrilhos. O banho bem rápido, ele já sabe, durará mais de vinte minutos, tempo superior ao do banho noturno e suficiente, a mulher deve achar, para acender nele o que à noite acende. De vez em quando, pela porta aberta do banheiro ela avisará a ele, embaixo, que a água está uma delícia, esperando que, como à noite, ele vá fazer-lhe companhia. Ele gosta da mulher ainda, como há doze anos, mas não sabe se gosta a ponto de inserir na rotina do casamento um banho que, de manhã, talvez porque já lhe falte algo da flama original, ele costuma tomar sem outras intenções. Daqui a pouco ela descerá de calcinha e sutiã, passará meticulosamente geleia numa torrada antes de lambê-la e, com sua voz que de três meses para cá é tão lânguida quanto a da noite, dirá: "Ai, que gostoso um cafezinho depois de um banho." Ele levará a xícara para a pia e, quando estiver subindo a escada para o seu banho, ouvirá: "Se você quer, eu vou também."

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