sexta-feira, 7 de setembro de 2012

De amor e mar

Não fales mais de amor. Um marujo velho evocando tempestades, por mais que as tenha enfrentado, jamais transmitirá aos jovens a exata fúria dos vagalhões, o fulgor demoníaco dos raios, o vento arremessando-se contra o navio como mil cães enlouquecidos. Assim como a do mar, tua memória do amor nunca será mais do que uma foto em preto e branco dos tormentos, das aflições, das convulsões que martirizam as almas possuídas pelo amor. Não fales mais dele, do amor. Que jovem acreditará, vendo teus olhos mortiços e tua pele de pergaminho, que o amor, assim como o mar, é o que dizes ser? Pensarão que o amor é uma superfície azul alisada pela brisa, e o que farão quando, numa plácida noite de verão, os atingir a tormenta?

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