quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A recompensa

Te deste inteiro ao amor. Te imolaste, te lanhaste, te crucificaste. Verteste, como dizem os maus poemas, todo o teu sangue por ele. Por ele choraste como um menino e te lamuriaste como um velho canceroso. Renegaste a tua família e foste por ela renegado. Como um personagem bíblico, foste execrado pelos amigos e escarnecido pelos inimigos. Tudo desafiaste em nome do amor, tudo perdeste por ele, e em cada hora de tua vida pensaste na recompensa. Esperas ainda por ela, porque o amor há muito se foi e, se alguém sabe onde ele está, certamente não és tu. Tu o chamas, tu o invocas no meio das tempestades: amor, amor, amor. Não sabes, infeliz, mas o amor não te deve nada. Pensas que os prazeres são o alimento da alma? Pensas que à alma apetecem as alegrias corriqueiras? Culpas o amor por tua incompetência? Ah, é teu corpo que se julga credor dele? A culpa é tua, infeliz. Tão superior quiseste mostrar-te que, enquanto pernosticamente exaltavas o amor, outros se deleitavam com os frutos que imaginavas estarem amadurecendo para ti.

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