segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Algumas linhas sobre Amedeo Modigliani, por Rosa Montero

"Certa noite trouxeram Modigliani tomado pela febre e delirando. Jeanne o colocou na cama e sentou ao seu lado para cuidá-lo. Era o mês de janeiro de 1920. Não tinham carvão, não tinham água (era necessário descer até a fonte do pátio para buscar, e a gravida Jeanne estava muito fraca), quase não tinham comida. Ficaram esquecidos por todos e trancados no estúdio durante uma semana, tiritando, bebendo álcool, comendo sardinhas enlatadas. Amedeo agonizava e Jeanne desenhava-se a si mesma se suicidando. E anotou em seu diário que nesses dias Amedeo sussurrou-lhe belas declarações de amor e palavras dulcíssimas. Certamente era verdade: certamente a amou então com a cumplicidade dos animais que compartilham o fim, com o desesepero dos últimos sobreviventes do apocalipse. Em seguida Amedeo começou a sofrer dores horríveis: tinha contraído uma tuberculose meningítica."

(Do livro Paixões, traduzido por Maria Alzira Brum Lemos e Ari Roitman.)

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