segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A palavra

Um morador de uma das casinholas à beira do deserto, um velho de oitenta anos que nasceu ali, conta aos visitantes, uma mulher e um homem, o fato mais notável que viu, em tanto tempo: um rapaz que, tendo ficado dias perdido na areia sem fim, chegou delirante e, em vez de água, repetia, suplicante: amor, amor, amor. O velho deu-lhe água e conseguiu fazê-lo tomar duas colheres de sopa. Depois disso, o rapaz havia se estendido na cama. Parecia que não respirava mais, porém de vez em quando seu corpo era sacudido por convulsões e nos seus lábios se formava, sem som, a palavra amor. Morreu depois de três dias em que seu único sinal de vida eram a febre, que o queimava como se ainda estivesse sob o sol, as convulsões e a angústia dos seus olhos toda vez que os lábios tentavam pronunciar a palavra. "Foi há muito tempo isso?", perguntou a mulher, e o velho respondeu que pelo menos sessenta anos antes. A mulher sorriu, suspirou, olhou para o marido e, como se falasse de dinossauros, disse: "Parece que o amor provocava coisas assim."

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