terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Dois parágrafos de Roberto Arlt

"Tanto é assim, que penso comigo que se não fosse pela lembrança de Ester Primavera já teria me matado. No meio desta miséria, seu nome bate em meu rosto como uma rajada de vento morno.
   Ela deixou de ser a mulher que um dia envelhecerá e terá cabelos brancos, e o sorriso estragado e triste das velhas. Ligada a mim pelo ultraje, há setecentos dias, vive no meu remorso como um ferro esplêndido e perpétuo, e minha alegria é saber que quando eu estiver moribundo, e os doentes passarem ao largo sem me olhar, a imagem desolada da delicada criatura virá me acompanhar até a morte. Mas como pedir-lhe perdão? E no entanto faz setecentos dias que penso nela a toda hora."

(Do livro As feras, tradução de Sérgio Molina, publicado pela Iluminuras.)

 

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