quarta-feira, 27 de março de 2013

Digo bom dia...

... para parecer um homem cortês, civilizado. Os poloneses e seus descendentes costumam ter a fama de gente meio rude, embora a delicadeza de Chopin e a de Wislawa Szymborska devessem bastar para refutar esse preconceito. Falo da Polônia e sinto uma pontada no peito, um mal-estar, um sentimento de filho que com a morte dos pais rasgou o álbum de fotos do casamento deles. Nunca fui à Polônia, nunca irei. Se eu for sincero, a Polônia não me faz falta, a não ser em raríssimos dias, como este, em que algo no meu sangue se inquieta e me incita à viagem. Talvez seja como acontece com os elefantes que - dizem - começam a voltar para o lugar de onde vieram quando sentem aquele primeiro tapinha da Morte no ombro. Escrevo isso e sinto como a minha vida tem sido toda metafórica e irreal. Voltar à Polônia como, se nunca estive lá? Mas nestes últimos dias tenho sido atacado por uma nostalgia, por umas aguilhoadas de culpa. É, acho, esse sangue polonês que anda por dentro de mim, esse sangue de povo triste, essa fonte de melancolia que destruiu a minha vida, mas sem a qual ela seria como um voo de mosca na cozinha, antes de a cozinheira acertá-la com o pano. Disse tudo isso para dizer o quê? Para dizer o que acabei de dizer. Sou triste, estou triste, irremediavelmente triste. Que eu seja a exceção e vocês a regra. Bom dia.

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