terça-feira, 23 de abril de 2013

Da perecibilidade das coisas humanas

Certos dias morrem tão simploriamente que mais parecem ter fechado os olhos para dormir. Estão no horizonte neste instante e, no seguinte, já saíram de cena, como um ator terciário de um teatrinho de colégio. Não há aquele espalhafato rubro dos dias mais ambiciosos. A ribalta se apaga como se nunca tivesse estado acesa. Também assim desaparecem certos bazares de bairro. Ficam trinta anos no mesmo ponto, com seu estoque de lápis, cadernos, canetinhas, apontadores, cola, borrachinhas. Um dia, acontece precisarmos comprar uma dessas miudezas. Então vamos, olhamos, olhamos, e onde está o bazar? Aí descobrimos que o bazar já não funciona há dois anos, desde que o dono morreu. Como era o nome dele? Hideo? Hiroshi? Apagaram-se ao mesmo tempo o dono e o bazar, como se nunca houvessem existido. O quarteirão todo será derrubado, dizem, para a construção de um prédio de apartamentos. Meu neto de oito anos me pergunta se os lápis, as canetas e os cadernos continuam lá dentro. Tem pena deles. Tenho, também. Devem estar com frio, com medo e com saudade da algazarra dos meninos. Deve estar com frio, também, seu Hideo, ou seu Hiroshi.

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