quarta-feira, 24 de abril de 2013

Se ao menos...

... fosse de pão nossa fome, poderíamos saciá-la, e não precisaríamos andar à noite pelas vielas marcadas pelo mijo torto dos bêbados. Se ao menos fosse de pão nossa fome, poderíamos comê-lo, ainda que duro, com nossos dentes moles e nossa persistente saliva. Se ao menos fosse de pão nossa fome, agradeceríamos a Deus por nos dá-la e por nos dar o pão para matá-la. Se fosse de pão nossa fome, poderíamos comê-lo em nosso sofá ou levá-lo para nossa cama à noite, com o gato e o jornal. Devemos agradecer a Deus esta fome extemporânea que nos avilta a alma e nos arrasta para ruas A e D de esquecidas periferias, às quais nem Márcio Canuto chega? Devemos agradecer a Deus por nos dar ainda esta fome que nos leva tão longe, para os fundos de casas das quais saímos sem dinheiro e com um agradinho, uma coceguinha que dizem ser tudo que nos podem dar, porque não é bem fome o que achamos ter?

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