sexta-feira, 26 de abril de 2013

Sorriu de tantos

Sorriu de tantos, e amanhã será dele que sorrirão o atendente da farmácia e os que estiverem próximos. Será ele quem, olhando para baixo, pedirá, como quem confessa um crime guardado por cinquenta anos, "uma daquelas pílulas". O atendente repetirá em voz alta o nome do comprimido, especificará os tipos de embalagem disponíveis, os preços, falará sobre a eficácia dos genéricos, explicará que funcionam mesmo (dando ênfase à palavra "funcionam") e, como se oferecesse balinhas contra a tosse, perguntará: "Quantas caixas?" Ele dirá que uma só, aparentando desdém, como se na verdade não precisasse de nenhuma, e, acompanhado pelo olhar estupefato da vovó que ao lado dele comprava um xarope para o neto, irá pagar. Ouvirá atrás de si um burburinho maligno e, quando estender o cesto com a caixa de pílulas, a menina novata repetirá o nome do produto à moça do lado, para conferir o preço e o desconto, e ele sairá com a embalagem, curvado como nunca esteve, andando com a consciência de não merecer o glorioso sol vespertino sob o qual, no ponto de ônibus, um rapazola de dezesseis anos estará enfiando a língua na boca de uma garota de treze.

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