terça-feira, 21 de maio de 2013

Depois do som e da fúria

Depois do som e da fúria, do amor que de nós exigia trombetas e sons wagnerianos, é hora de voltarmos à flauta tímida e ao assobio, de retornarmos à placidez das trovas e das quadrinhas. Talvez elas nem nos recebam, depois de nossa ambição de sonetos tonitruantes e das cegantes chaves de ouro. Tão grande fizemos o amor em nosso peito e em nossas aspirações desvairadas, que já haviam morrido todos os poetas capazes de celebrá-lo. Precisaríamos de Camões, e não tínhamos sequer Casimiro de Abreu. Não há de ansiar por estrelas quem não pode lhes exaltar o brilho. Sonhamos com ouro e por nossas mãos escorre a breve areia das ampulhetas. Surpreende-nos ver, mortos que estamos, nossas mãos incapazes do lavor de que foram encarregadas. Que em nossa próxima vida, se a tivermos, Deus nos faça tão grandes quanto nossos sonhos, ou nos mate antes de sonhá-los.

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