domingo, 19 de maio de 2013

Tenho agora só...

... as memórias. Deveria ter estado mais atento ao que me acontecia quando era ainda um homem vivo. Por que não me fixei na vida, quando ela pedia para ser fotografada? Julguei que teria sempre sobre mim o sol que, sorrindo para mim certa manhã, insistiu: olhe para mim, olhe bem para mim. Não olhei, e se tento evocá-lo hoje ele se vinga e me aparece ora intenso, ora morno, ora apagado. Não há um instante que se repita, jamais algum se repetiu na história do mundo. E eu passei pelo sol daquela manhã como se fosse um sol qualquer. Senti-lo de novo seria meu último desejo. Eu o reconheceria, tenho certeza, entre os vinte e tantos mil sóis que seguiram meus tristes passos. Sorriria para ele. Nada mais. Não precisaria ver mais sol nenhum.

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