sábado, 29 de junho de 2013

O amor é o ...

... maltrapilho que toca nossa campainha num daqueles dias em que a tristeza está sentada em nosso sofá. Levamos a ele um sanduíche caprichado, um copo de refrigerante e, em vez de o deixarmos ir, permitimos que ele nos conte uma história. A história é longa e, com pena de seu cansaço e para que nossos vizinhos não nos julguem impiedosos, nós o convidamos a entrar. Ele mostra ser bem despachado, entra e logo se acomoda no sofá, atirando ao chão a tristeza. Enquanto come e bebe, vai contando sua história. Quando a acaba, pensamos: como pudemos viver tanto tempo sem ele? No mesmo dia ele diz preferir o lugar que sempre ocupamos no sofá e, depois, na cama. Achamos maravilhoso, isso. Uma mudança nunca vem sozinha. Dali a alguns meses, dizemos a todos, com orgulho, que aquela casa não é mais nossa, é a casa do amor. E uma tarde, quando voltamos do trabalho, tocamos a campainha, tocamos, e o amor demora uma eternidade para nos espiar pela janela e dizer: "Não dou esmola. É uma questão de princípios." Continuamos tocando, tocando, até descobrir que o amor, se por acaso nos deixar entrar, nos receberá com sua segunda identidade: a máscara da compaixão. E tentamos nos lembrar para que vizinho nós demos nossa tristeza, que bem nos serviria, embora de segunda mão.

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