segunda-feira, 22 de julho de 2013

As fornicações hão de...

... sacudir todas as camas, todos os quartos e todos os motéis. Hão de cair uma a uma as letras de néon, e os porteiros, telefonando-se uns aos outros, descobrirão que a luxúria terá produzido, na região central da cidade, um número capaz de encher de orgulho a masculinidade paulistana: 4,6 graus na escala Richter. Fotos de fundadores de empresas desabarão dos caixilhos, na Paulista, e amanhã de manhã se descobrirá que terão sumido os bigodes e os cavanhaques de quem os ostentava. O fenômeno se estenderá à periferia, finalmente lembrada num grande acontecimento, e Borba Gato será encontrado de joelhos em Santo Amaro, punido afinal por sua feiura. Uma beata dirá que o fenômeno, apelidado de noite de arromba por um jornal popular, será sempre uma vergonha para nós, brasileiros, justamente agora, com a visita do papa, e outra, suspirando reminiscentemente, falará da impetuosidade do marido, morto há 20 anos numa noite em que, com a colaboração dela, fez tremer o armário do quarto, numa época em que não havia ainda a mania das estatísticas. Todos os homens caminharão pálidos amanhã, e também as mulheres, ainda que pintem o rosto. Haverá uma fome redobrada nos rodízios e virão equipes de reportagem de todos os países para relatar o fenômeno. Daqui a nove meses nascerão meninos robustos e meninas gorduchas. O dia 22 de julho passará a ser comemorado com a devida devassidão, mas jamais se alcançará o mesmo brilho. Será mais um evento comercial na cidade, e daqui a vinte anos nem os participantes da epopeia sexual se lembrarão de como tudo tremia e ameaçava desabar, de como, por uma hora gloriosa, entre as dez e as onze, pareceu possível destruir a cidade com os solavancos da luxúria.

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