sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Kama Sutra - CCLXXII - Márika Voroshenka (10)

Comecei a escrever estas notas sobre minha relação com Márika Voroshenka sem nenhum planejamento, quase que por acaso. Não pensei em nada. Simplesmente comecei a escrever. Já contei vários episódios de nossos encontros no parque e outras particularidades, e só agora me dou conta de que não me preparei para certos aspectos, como questões de linguagem, e estou agora exatamente diante de um. Vou falar de algo sem o que Márika não seria Márika, e fico em dúvida sobre o termo que devo empregar. Como os nossos encontros têm sido quase castos, se vistos com olhos atuais, consistindo em beijos e apalpadelas, poderia usar a palavra nádegas, se ela, em si, não me parecesse tão desprovida de graça. Opto por bunda mesmo, porque lordo poderia dar a impressão de se tratar aqui de um relato mais condimentado. Para dizer sem mais demora o que pretendo, a bunda de Márika é dessas tão compactas, redondas, carnosas, que as mãos dos homens, perto dela, ficam sempre inquietas, e entram e saem do bolso como se pertencessem a um mágico posto repentinamente em pânico por ter desaparecido seu coelho. Bem, como disse, a bunda de Márika Voroshenka é um elemento perturbador em qualquer paisagem. Digo que não foi exatamente por ela que a segui a primeira vez no parque e criei coragem para lhe falar. Mas digo só com meia convicção. Já no primeiro dia, quando Márika aceitou sentar-se comigo num banco, para conversarmos, eu fui bem-sucedido na tentativa de pôr minha mão em seu ombro, mas quando a fiz descer para a cintura, Márika, adivinhando minha intenção, a retirou dali. "Também você?", ela me disse, e eu imaginei o óbvio: que os homens só notavam o seu rosto e os seus belos e azulíssimos olhos depois de admirar aquela elevação que, em movimento, me fazia rilhar os dentes. Ainda nesse primeiro dia, depois de acertarmos que passaríamos a nos ver regularmente sempre que pudéssemos, fiz nova tentativa de apalpar a bunda de Márika, mas ela foi ainda mais enfática na recusa. Mostrei meu desapontamento, também mais explicitamente. Ela então me disse algo de que naturalmente me lembro sempre, com aflita esperança: "Um dia, quem sabe." Até hoje não chegou esse dia. E esse é, não vou negar, um dos motivos pelos quais continuo a ir aos encontros. Esse e os beijos molhados de Márika. Deus! Onde e com quem foi que ala aprendeu a beijar assim? Penso às vezes se Márika não é uma profissional do sexo brincando de namorar comigo. O modo como ela, com a língua, pede espaço à minha e sobe e explora o céu de minha boca, milímetro a milímetro, não deve ser comum, eu imagino. Ou será que meu maravilhado espanto se deve ao fato de eu há muito tempo andar alheio às práticas amorosas? Aqui estou eu a falar de beijos, quando a intenção inicial era falar da bunda de Márika. Imaginem como é difícil nos ocultarmos no parque, para nos desfrutarmos, tendo ela a bunda que tem. Pode alguém achar que isto é uma contradição em termos, mas a bunda de Márika Voroshenka é divina.

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