segunda-feira, 23 de setembro de 2013

"A morte do poeta", de Rilke

"Ali jazia. Sobre o travesseiro erguido
era de rejeição seu pálido semblante,
desde que o mundo, e o que dele conhecera antes
de arrancado dos seus sentidos,
retornou ao ano desinteressante.

Os que o viam viver nem devem ter suposto
o quanto ele era um só com tudo isto, com estes
prados, estas baixadas, estas águas; destes
era feito, eles eram o seu próprio rosto.

Oh o seu rosto tinha toda esta largura
que ainda o quer, que ainda o anda a procurar,
e sua máscara de morte, ansiosa, alvar,
também é tenra e aberta como a carnadura
de uma fruta qualquer que apodrecesse ao ar."

(De Poemas de Rainer Maria Rilke, tradução de José Paulo Paes, publicado pela Companhia das Letras.)

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