quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Depois do grande baile

Tenho hoje o sentimento de quem, havendo cochilado num grande baile, acorda e já não sabe onde está. As luzes, os sons da orquestra, tudo se apagou. Os pares se foram, a lua se foi, foram-se as estrelas que se aproximavam das grandes janelas e espiavam para dentro do salão. Nenhum sinal sobrou dos músicos, eles se foram, com os instrumentos. Persiste no ar um aroma de champanhe e de suaves perfumes femininos. A mulher para quem sorri toda a noite deve estar nos braços do homem de bigodinho. Eu bebi demais e estou onde caí. Ao lado do palco. Os homens vão carregando para fora as mesas e as cadeiras. A água dos grandes baldes logo se esparramará pelo soalho. Todas as pegadas dos dançarinos se dissiparão. Também as dela. O sol entra no salão, como se fosse o chefe dos limpadores. Olha para mim. Há censura nele. Devo levantar-me, se conseguir, e ir embora, ou me arrastarão para fora. Sou uma mesa, uma cadeira, um traste. Quero morrer.

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