sábado, 26 de outubro de 2013

Sei hoje tantas coisas

Sei hoje tantas coisas. Provei o fruto do amor, certa manhã, e ele me abriu os olhos para a amplidão do mundo. Tive medo de que jamais houvesse tempo para conhecê-lo. Por isso, naquela manhã eu já me pus a caminhar. Tudo era belo, ensolarado. O vento chamava-se brisa e à minha passagem as flores se acotovelavam, cada uma querendo me oferecer seu aroma. A cada quinze minutos de caminhada surgia, cantando, uma fonte de água. Passarinhos vinham trazer-me mensagens do amor e eu os mandava de volta com poemas ditados pelas folhas das árvores. No meio do caminho, de repente me perguntei o que eu buscava, afinal, para deixar o amor assim para trás. Ele não me dera nenhuma missão, só me sugerira andar. Veio-me um pressentimento que me recusei a aceitar. Não, não era possível. E no entanto era. O amor me mandara caminhar sempre em frente, até que eu descobrisse onde começava o horizonte. Não sei quantos anos eu já havia caminhado, então. Mas devia estar muito longe, porque já não chegavam a mim os passarinhos com as mensagens. Eu estava de costas para o amor, caminhava para longe dele, e pude imaginar seu rosto zombeteiro. Assim trata o amor os que a ele se submetem. Nesse dia, o da revelação, olhei para a margem do caminho e já não havia flores. Nem sequer uma árvore com um galho suficientemente forte para suportar o peso de meu pescoço e de minha dor.

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