quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"Soneto da buquinagem", de Carlos Drummond de Andrade

"Buquinemos, amiga, neste sebo.
A vela, ao se apagar, é sebo apenas,
e quero a meia-luz. Amo as serenas
angras do mar dos livros, onde bebo

- álcool mais absoluto - alheias penas
consoladas na estrofe, e calmo, e gebo,
tiro da baixa estante sete avenas
em sete obras que pago e que recebo.

Amiga, buquinemos, pois é morta
Inês de antigos sonhos, e conforta
no tempo de papel tramar de novo

nosso papel, velino, e nosso povo
é Lucrécio, e Villon, velhos autores,
aos novos poetas muito superiores."

(De Obra completa, publicado pela Companhia Aguilar Editora.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário