terça-feira, 19 de novembro de 2013

"Balada da mercê", de François Villon

"A Cartuxos e a Celestinos,
A Mendicantes e a Devotas,
A paspalhos e a valdevinos,
A galantes e a cocotas
De jaquetas e estreitas cotas,
Aos transidos do amor cortês,
Impávidos, com fulvas botas,
Imploro a todos por mercê.

A moças que mostram tetinhas
Para atrair ricos janotas,
A rufiões com suas rinhas,
A saltimbancos com marmotas,
A histriões em cambalhotas,
Loucos e loucas, seis a seis,
Com cetros, bexigas marotas,
Imploro a todos por mercê.

Mas não a esses pérfidos cães
Que me fizeram duras crostas
Mastigar noites e manhãs.
Aos quais hoje nem mais se nota
E por quem já se peida e arrota.
Mas, sem voz, eu perdi a vez.
Afinal, as coisas bem postas,
Imploro a todos por mercê."

Rebentai-lhes, firmes, as costas,
Com porretes de bom jaez,
Chumbo nas pontas quais pelotas:
Imploro a todos por mercê.

(De Poesia, tradução de Sebastião Uchoa Leite, publicado pela Edusp.)

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