terça-feira, 26 de novembro de 2013

Em dias

Em dias como este, em que a alma nos surpreende e nos mostra que pode sofrer mais do que imaginávamos, não sei o que vocês fazem. Eu vou buscar poesia. Corro para o Centro Cultural Vergueiro (que bem mereceria chamar-se Mário Chamie) e procuro nas estantes aquilo que almas muito superiores à minha deixaram como testemunho. Compartilho com Rilke, com Celan, com Pessoa, a dor - que é o sentimento que mais une os homens. Reconforta ouvir o que eles disseram quando, como eu, acharam que a vida é uma cilada para a qual nunca estaremos preparados. Esta noite me condoí de um passarinho que piava, piava, sem resposta. Devia estar ferido. Chegou a manhã e não ouvi mais seu piado. Os otimistas dirão que, com o sol, foi resgatado pela mãe. Por ele, pelo passarinho, eu gostaria de acreditar. Mas sempre há de haver um passarinho assim, que pede socorro numa noite de chuva. Os outros são como se não existissem. Os poetas são iguais. Piam, piam. Dizem os outros que eles só querem chamar a atenção. E, assim dizendo, dormem com seus pijamas pela gola dos quais escorre, de madrugada, a satisfeita baba da autossuficiência.

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