segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

No fundo

No fundo, sempre achamos que a tristeza era o nosso único tesouro. Nós a mostrávamos aos outros, dizíamos: olhe, ela é assim, desse jeito, quer ver como funciona? Ninguém jamais quis apertar aquele botão que indicávamos, perto do coração. Nunca ninguém mostrou interesse. Voltávamos para casa, apertávamos o botão. Haveria algum problema na engrenagem? Tudo estava sempre perfeito. Levamos algum tempo para saber que era algo feito só para nós, algo que estávamos fadados a não dividir. Somos usurários, hoje. Quando abrimos o baú à noite, antes de dormir, lá está ela. E, antes de deitar, olhamos se tudo está bem trancado. Que não vá alguém querer apossar-se dela. Sabemos quanto ela vale.

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