quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Minha mãe, minha tia

Minha mãe e minha tia não duvidaram de mim quando, com oito anos, eu disse que seria escritor. Minha mãe acreditaria em mim se eu lhe dissesse que seria presidente do Brasil e me casaria com Shirley Temple. Minha tia não só acreditou em mim como começou a me presentar com livros, como estímulo. As duas há muito tempo estão mortas. É triste dizer isto, mas é um alívio. Não sei como olharia para elas. Por amor, elas mentiriam. Diriam que nunca leram escritor melhor. São poucas as pessoas que nos amam. Dez, se tanto, em toda a vida. Minha mãe e minha tia me amaram tanto que eu prescindiria das outras oito. Envergonho-me de ter mentido para tantos amigos, para tantos leitores. Os amigos já há muito não acreditam mais em mim, é verdade. Não são tolos. Não me convidam mais nem para um suplementozinho ocasional. Mas eu ter enganado tantas crianças, quase um milhão delas, com meus livros, é algo que fará pesar meu ataúde. Felizmente, a vida vai-se apagando. Se eu, por má índole, continuar fingindo, não será por muito tempo mais.

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