quarta-feira, 28 de maio de 2014

A duquesa e sua filha

Ontem meu amigo Richard e eu fomos a um jantar na casa de uma formosa duquesa viúva, de trinta e seis anos, e sua filha de dezoito, ainda mais formosa.
   Quem nos fizera chegar o convite havia sido explícito quanto ao que lá deveríamos fazer. Tratava-se de entreter as duas nobres mulheres com nossas trovas, cuja fama chegara a esta parte do país, e servi-las também sexualmente, tarefa para a qual, louvado seja Deus, somos também singularmente dotados.
   Às oito em ponto, conforme solicitava  o convite, chegamos ao casarão, que parecia um palácio reformado. Um lacaio abriu-nos o imenso portão e nos introduziu em uma sala muito ampla e luxuosa, decorada com objetos de raro valor, cujo requinte me absterei de descrever.
   Sentados à mesa, à luz de velas, estavam a duquesa, de rosto belíssimo e farta carne, e a filha, uma cópia exata da mãe. Richard e eu naturalmente ficamos encantados com elas, imaginando qual das duas iria no fim da noite caber a cada um de nós ou se, por um dos jogos sexuais que andam em moda, nos daríamos os quatro simultaneamente em uma dessas camas destinadas a múltiplos prazeres.
   Desagradou-nos um pouco ver, sentados também à mesa, dois jovens com típicos rostos de aldeões. A duquesa explicou-nos que se tratava de dois trovadores da região que, sabendo de nossa fama, haviam pedido permissão pára nos conhecer.
   O jantar foi servido com uma riqueza de iguarias que também me absterei de citar. Depois de havermos bebido uma dezena de taças de vinho, a duquesa nos convidou a declamar os poemas que ela e a filha disseram estar esperando ansiosamente.
   Richard e eu nos superamos. Jamais fomos tão bem favorecidos pelas musas. A duquesa e a filha nos olhavam como se fôssemos a encarnação do dom poético. A duquesa perguntou, a Richard e a mim, se concederíamos aos dois bardos da região a oportunidade de mostrar sua arte. Consentimos, e eles deram uma demonstração da pobreza do seu preparo.
   Continuamos a beber alegremente até a meia-noite, quando a duquesa saiu da sala e chamou a filha. Ficaram ausentes por alguns minutos e, ao voltarem, a duquesa comunicou, a Richard e a mim, que já podíamos nos ir, porque era hora de elas dormirem. Agradeceu-nos e nos perguntou - o que muito nos ofendeu - se desejávamos levar alguma iguaria da qual tivéssemos especialmente gostado.
   Saímos tentando esconder nossa decepção. Tínhamos dado não mais de cem passos quando começamos a ouvir os gritos de júbilo amoroso das duas mulheres. Andamos a noite inteira, sem destino, e chegamos esta manhã a uma estalagem onde o proprietário, entreouvindo nossa história, se permitiu rir e dizer-nos que aquilo por que havíamos passado era comum: os dois jovens - aldeões, como supuséramos - eram já fazia algum tempo amantes da duquesa e da filha, que sentiam redobrado prazer quando simulavam ocasiões como a da véspera. Convidavam jovens forasteiros e os incitavam a disputá-las, para depois, logrando-os, melhor aproveitarem os atributos dos dois labregos, pobres de versos mas agraciados com instrumentos sexuais famosos na região, capazes de quebrar cabaças de barro.

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